E se um dos grandes símbolos da “masculinidade” tivesse sido aprimorado pelas mulheres? Conheça o lado feminino da história cervejeira e entenda por que cerveja sempre foi coisa de mulher.
Postada em 17/03/2022 as 09:09
História é poder. Por isso, quase sempre ela é contada do
ponto de vista de quem o possui – um seleto grupo formado, quase sempre, por
homens. Na rasa definição do que seria o universo dito masculino, certamente a
cerveja ocupa um lugar simbólico do que é “ser um homem”.
Mas nem sempre foi assim. Na verdade, na linha cronológica
da cerveja, que existe há mais de 5 mil anos, as mulheres tiveram uma
participação muito expressiva e potente. Para celebrar o Dia Internacional da
Mulher, conheça mais as curiosidades e o passado da bebida que quebra os estereótipos
do universo cervejeiro.
Antiguidade
Nessa época, as mulheres eram responsáveis por cuidar dos grãos mantidos dentro de jarros e que seriam usados para fazer pão. Foi dessa forma que a cerveja foi descoberta. Os grãos muitas vezes não eram consumidos e ficavam dento dos jarros, de baixo de chuva e sol, sendo fermentados e formando o líquido que hoje conhecemos como cerveja. Assim, a produção da cerveja ficou como responsabilidade das mulheres, considerada uma atividade caseira.
Na Babilônia e na Suméria, por volta de 4.000 a.C., as mulheres cervejeiras (sabtiem) eram consideradas pessoas com poderes divinos. Na época, a cerveja era uma bebida sagrada, o que colocava as mulheres em um patamar superior, por terem sido elas as escolhidas para a produção da cerveja.
Ninkasi, considera Deusa da cerveja.
Vale dizer que nas civilizações antigas a produção da
cerveja era a única oportunidade de trabalho que as mulheres tinham e podiam
abrir suas próprias tabernas, locais onde vendiam as cervejas.
Entre os vikings, somente elas podiam produzir cerveja e os
equipamentos eram de sua propriedade exclusiva. O rei Alreck de Hordaland
(antigo reino viking da Noruega) escolheu sua esposa Geirhild não por sua
beleza ou seus dotes, mas por seus dons cervejeiros.
O primeiro
registro de uso do lúpulo na produção de cervejas foi feito por uma mulher: a
monja beneditina Hildegarda de Bingen. Em sua obra, datada do ano de 1150, ela
descreve as qualidades do lúpulo como conservante e ressalta seus benefícios
medicinais e para a cerveja. Foi canonizada em 2012 e hoje é uma Santa
considerada protetora dos cervejeiros em diversas parte do mundo.
Idade média
Já no contexto da crise da Idade Média e do início do
capitalismo, no período que ficou conhecido Caça às Bruxas, o feitio da cerveja
foi aos poucos sendo retirada de mãos femininas e, boa parte do imaginário que
define uma bruxa nasce do contexto da fabricação de cervejas.
Sim, muitas bruxas eram, na verdade, mulheres cervejeiras. Isso porque para fabricar a bebida era necessário um grande caldeirão. Quando a bebida começava a fermentar, o líquido no caldeirão passava a borbulhar, como uma poção mágica. Para mexer o caldeirão, um pedaço grande de madeira com um ramo na ponta era utilizado – muito similar a uma vassoura. Por fim, por trabalharem com cereais como o malte, tratava-se de um contexto propício para o surgimento de ratos. Caldeirão, poção mágica e vassoura: todos os elementos de uma bruxa estavam lá. Muitas das mulheres acusadas de bruxarias e mortas em milhares nas fogueiras da perseguição eram, na verdade, as melhores fabricantes de cerveja da Idade Média.
A perseguição não tinha, no entanto, um verdadeiro propósito
religioso, e sim o objetivo de conter as revoltas populares e garantir o
controle do poder das elites. Além disso, como o apreço pela bebida já era popular,
ao invés de condenar também a cerveja como fruto de bruxaria, condenavam-se
somente suas fabricantes, enquanto os homens iam aos poucos aprendendo a
desenvolver a bebida, passando a lucrar o dinheiro que antes era exclusivo de
mulheres.
O domínio
feminino diminuiu ainda mais no final do século XVII, quando o boom do mercado
de cervejas aconteceu e surgiu a produção de grandes volumes. A alta taxa de
analfabetismo entre as mulheres e a proibição de frequentar ambientes
produtivos coletivos ou atividades comerciais provocou essa queda. Além disso,
as mulheres não conseguiam fazer empréstimo nos bancos ou abrir sua própria
fábrica de cervejas. A desmoralização foi tamanha, que as mulheres que tomavam
cerveja eram julgadas pela sociedade, intimidando as que frequentavam bares.
Hoje, com as mudanças nos hábitos da sociedade, observou-se
um crescimento da participação feminina no consumo da cerveja. Do final do
século XX até os dias atuais, a mulher vem ganhando mais espaço, seja como
profissional do ramo ou como exigente consumidora.
Então lembre-se, se hoje tomamos cerveja como forma de lazer e prazer, é graças ao trabalho das mulheres – das bruxas que nada fizeram além de nos apresentar uma verdadeira invenção divina; o presente de uma deusa.
Conta pra gente, você conhecia esse lado da história?
Esperamos que tenha gostado e lembre-se, cerveja é sim coisa
de mulher! 😉🍻
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